Hipótese PCC: Marcola para presidente!

Nesse nosso Brasil Contemporâneo, a gente tem que aprender a ouvir todo tipo de descalabro e encher-se de resignação para, depois, poder jogar um pouco de luz e verdade em temas que se percebe logo que de ciência não têm nada. Vejam essa: Quem reduziu os homicídios no Estado de São Paulo foi o PCC. Que Dilma nada! Marcola para Presidente!




Talvez você meu incauto leitor nunca tenha ouvido falar de uma teoria absurda e que qualquer pessoa de bom senso, equilibrada e com conexões com a realidade jogaria na lata do lixo sem pensar duas vezes. A tal é a denominada e até ovacionada em certos meios acadêmicos "Hipótese PCC".
Resumidamente essa teoria diz que foi e é o Primeiro Comando da Capital o verdadeiro responsável pela acentuada queda dos homicídios no Estado de São Paulo, que goza de uma taxa inferior a 10 por 100.000 habitantes; disparada a menor do Brasil e tida como não epidêmica pela ONU.
Quem fez questão de cravar essa teoria na cara de seus leitores foi o Jornal "Folha de São Paulo", publicando, dias depois do festejado anúncio do Governador dos indicadores de 2015, um estudo de um canadense, Graham Willis, apresentado na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Solicitarei um favor a você: ler a matéria da Folha antes de continuar lendo o post.

Continuemos

O "pesquisador" acompanhou durante mais ou menos três anos uma Equipe de Homicídios do DHPP - Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa - da Polícia Civil de São Paulo; e nessa "imersão", como diz a matéria, ele teve acesso a documentos que comprovavam que foi o PCC o responsável pela queda dos assassinatos. E ele também visitou uma (uma apenas) comunidade controlada pela tal facção.
Precisamos esclarecer algo a você leitor e isso vem da minha experiência de mais de 10 anos convivendo com diversas ONGs: é que muitas delas são financiadas ou pelo governo ou por colaboradores estrangeiros dos mais diversos países, mas em especial os europeus; portanto, para garantirem seus dólares e euros eles defendem as mais diversas teorias, desde que "denunciem" ou "exponham" a opressão a que são submetidos os mais fracos. É só questão de dinheiro e a manutenção de uma vida nababesca no ócio! Que solução que nada!
Bom, vamos analisar o profundo estudo do até então obscuro "pesquisador". Pelo menos o que foi publicado.
Ele afirma que "a queda de 73% nos homicídios no Estado desde 2001, marco inicial da atual série histórica, é muito brusca para ser explicada por fatores de longo prazo como avanços socioeconômicos e mudanças na polícia"; e comenta também que "o sistema de segurança pública nunca estabeleceu por que houve essa queda de homicídios nos últimos 15 anos. E nunca transmitiu uma história crível. Falam em políticas públicas, policiamento de hotspots (áreas críticas), mas isso não dá para explicar".
A série histórica dele está errada! É a partir do ano de 1999 que se começou a verificar o declínio dos homicídios e não 2001. Outra coisa é que o dito "pesquisador" não deve saber o que significa "longo prazo". Se falarmos em termos de Economia, o longo prazo é a perder de vista, portanto não nos empresta uma noção exata do tempo. Quando falamos de Planejamento e Gestão, podemos ter a noção do que seja curto, médio ou longo prazo. Curto é até dois anos, médio de dois a cinco anos e longo mais de cinco anos (se quiser saber mais sobre, clique aqui).
Como a série histórica é de 17 anos ela é de longo prazo e os fatores se explicam sim, pois a Secretaria de Segurança Pública e as Polícias contam como é sua metodologia de trabalho, mesmo sendo ela complexa; como o é em qualquer lugar do mundo. Falar que uma queda de 73% é brusca em uma linha histórica de 17 anos, é subestimar tudo em termos de políticas públicas; bem como nunca o Estado de São Paulo reputou, como faz o "pesquisador", a uma única causa.
Depois ele vem e diz que foi a partir de 2003, quando o PCC dominou áreas do Estado, que houve uma queda de 80%. Qual a lógica desse pensamento? Quer dizer que todo o esforço estatal não seria capaz de diminuir os homicídios em 73% em 17 anos, mas o PCC em menos tempo, sozinho, reduziu 80!


Depois ele busca embasar sua conclusão na visita à tal comunidade.
Meus amigos, em pesquisa científica, quando você vai observar e comprovar um fenômeno, é fundamental que este fenômeno se reproduza sempre da mesma forma, nas mesmas ou semelhantes condições; qual seja, você não pode generalizar uma tese com base em uma única observação, ou, única ocorrência do fenômeno. Assim sendo, a tese do nosso esforçado e intelectualmente honesto "pesquisador" cai por terra. Não havia outras comunidades para ele comparar? Elas quase inexistem em São Paulo, a cidade, que possui mais de 11 milhões de habitantes, não é mesmo?
Entretanto ele embuti uma lógica perversa e que compromete indelevelmente a Polícia, em especial a que tão gentilmente abriu-lhe as portas para suas pesquisas.
A primeira, que não emerge explícita na matéria, mas é uma conclusão que pede uma resposta é: nos 3 anos em que acompanhou a Equipe do DHPP, qual foi o índice de resolução de homicídios? Dos homicídios que ele tão zelosamente acompanhou, quantos foram elucidados? E dos elucidados, quantos foram imputados à ação do PCC?
A matéria se cala e deixa o competente e prestigiado DHPP em situação delicada.
A segunda está no texto e é abominável. Ele diz: "Para a organização manter suas atividades criminosas é muito melhor ficar 'muda' para não chamar atenção e ter um ambiente de segurança controlado, com regras internas muito rígidas que funcionem". Ele implicitamente diz que se o PCC ficar quietinho e corromper a Polícia, fica tudo bem. É missão da Polícia buscar e prender criminosos, estejam eles "na moita" ou não. A isto dá-se o nome de Inteligência. Vide a operação Lava-jato.
E, para não deixar barato, ele vem e fala que os ataques do PCC contra os Agentes de Segurança é uma resposta natural e justa à violência estatal.
Mas é aqui que a gente pega a vigarice intelectual: o PCC está agindo em praticamente todos os Estados brasileiros. Por quê os homicídios no Brasil não diminuem e só aumentam?
"Pega na mentira", já dizia a música.
No Brasil tivemos algo em torno de 58 mil homicídios em 2014 e uns 60 mil em 2015. E aí Mr Willis? "Isprica pa nóis".
Caro amigo e amiga eis uma análise simples, apesar de longa, da execrável matéria publicada.
Caso vocês queiram ver dois pesquisadores, de verdade, é só clicar nos nomes abaixo.
Grato pela visita!



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